"Madrinha do MMA": Minotauro e Wanderlei destacam importância de Glória Maria (2023)

ocombate.comconversou com Minotauro e Wanderlei nesta quinta para relembrar a reportagem e explicar a importância que Glória Maria teve na popularização do MMA. Para Rodrigo Minotauro ela foi a "madrinha do esporte". O lutador chegou a batizar a sala de imprensa de uma de suas academias com o nome do jornalista em 2013.

- Ele tinha o nome dele, colocamos em sua homenagem porque foi a primeira pessoa na televisão aberta brasileira a fazer uma grande reportagem sobre o nosso esporte. Ela foi a madrinha do nosso esporte, diga-se de passagem. Tínhamos uma relação amigável. Eu a encontrei algumas vezes, conversamos, sempre conversamos sobre o esporte, sobre a importância que ela teve para o esporte. Falamos sobre várias coisas. Encontramos amigos em comum, sempre trocamos ideias após o evento, sempre enfatizei o quanto é importante.

A reportagem do Fantástico de 2003 foi lembrada por Minotauro e Wanderlei, que relembraram o impacto que teve em suas vidas após a exibição.

- Foi enorme porque foi a primeira vez que a gente passou na televisão nacional que o MMA passou na televisão nacional. Não sei quem criou a agenda, mas ela realmente nos deu um espaço que nunca tivemos. A partir daí tivemos muito mais abertura com a imprensa e foi peça fundamental. Sou muito grato a ele, um personagem fantástico. Senti a diferença, foi uma matéria que o mundo inteiro viu, teve um público incrível e tivemos muita sorte de sermos aceitos pela grande mídia dessa forma. O público estava louco para ver as lutas, para saber o que estava acontecendo no Japão, e através desta matéria mostramos realmente o quanto somos populares por lá. Ele passou a semana toda conosco, foi um artigo muito bem feito e foi muito legal atuar aqui no Brasil. disse Wanderley.

- Lutamos no Japão e havia 80.000 pessoas no Tokyo Dome. Ele chegou ao Brasil e foi considerado anônimo. Apenas o fã "hardcore" sabia disso. Lembro que foi um marco na volta. Completamente diferente. Fizemos Fantástico na semana seguinte, foi totalmente diferente. São quatro grandes marcos no MMA – essa matéria que o MMA realmente cresceu depois disso e passamos a transmitir em outras TVs, inclusive na Globo. Abriu as portas para programas de sala de conferência e tudo o que não assistimos. Minha luta pelo cinturão do UFC, que venci em Las Vegas em 2008, me deu mais um impulso na carreira, mas porque esse tema me empurrou. A luta do Anderson Silva (com o Vitor Belfort) foi um grande boom. E a chegada do UFC no Brasil. Foram quatro marcos importantes da mídia na televisão brasileira, mas acho que foi a história dele que fez tudo acontecer - completou Minotauro.

Filmando no Japão, Glória Maria Minotauro compartilhou uma de suas histórias favoritas de sua carreira, cobrindo a invasão da embaixada brasileira no Peru em 1996 por um grupo terrorista.

- Lembro muito bem de uma história que ela me contou, dos primeiros encontros com ela. A embaixada peruana havia sido sequestrada e dentro estava um embaixador brasileiro. Vários caminhões da CNN estavam estacionados em frente a ele. Eu tinha um cinegrafista filmando as matérias para a Globo e não tinha muita estrutura. Eles têm uma picape de transmissão externa, tudo. E ele alugou um apartamento em frente à porta. Ela nos contou, emocionada, que era muito boa em contar histórias. Ela ficou acordada a noite toda na manhã em que viu movimento em frente ao local. Ela correu, todos dormiam, atravessou a fronteira e foi a primeira a colocar o microfone na frente dela e entrevistar o embaixador brasileiro. Ela contou essa história e o que ela estava fazendo me pareceu muito interessante – relembrou a ex-lutadora, que viu na história um exemplo de como cobrir sua luta no Japão.

- Quando ela foi para o Japão, eles tinham todas as televisões do Japão em primeiro plano, mais de 25, televisões das Filipinas, da Coréia, eles priorizavam essas. E ela disse: "Quero entrevistá-lo assim que você sair do ringue". Fiquei até com vergonha de dizer: "Glória, infelizmente não consigo passar pra você ficar na frente, você fica mais atrás, mas eu vou falar com o pessoal do corredor que está descendo do ringue e vou acompanhá-lo mais perto." E ela disse: "Você viu como eu estava falando sobre a embaixada no Peru? Você viu o que eu te disse? Quando você sair do ringue, estarei ao lado do microfone." Subi no primeiro degrau, vi cara a cara, ela foi a primeira pessoa. Então é incrível. Ela tinha passe para ir mais longe, tem que falar que ela é brasileira, então ela tinha autoridade para fazer e fez.

Na ocasião, Minotauro sagrou-se Campeão Interino dos Pesados ​​ao finalizar Mirko Cro Cop enquanto Wanderlei Silva derrotou o japonês Hidehiko Yoshida por decisão unânime e Rampage Jackson por nocaute na mesma noite para vencer o GP dos Médios.

- Eu só conhecia (Glória Maria) da TV, mas quando ela veio para o Japão foi muito engraçado. Ela disse: "Não gosto deste evento de luta livre, acho que é muito violento." Então eu não tinha tanto acesso. Foi a primeira vez que aparecemos na televisão nacional. Ficamos juntos a semana toda, ela a entrevistou e em pouco tempo ela começou a vibrar no evento. Na primeira luta ele ficou assim, aí começou a gritar: "Vai lá, isso e aquilo." Uma mulher muito inteligente e sensível. Foi um grande prazer conhecê-la e muito feliz por ela ter aberto esse caminho para nós dado no Fantástico para que pudéssemos mostrar que o MMA - Wanderlei é divertido de lembrar.

Tanto Wanderlei quanto Minotauro se preocuparam não só em elogiar as qualidades da jornalista Glória Maria, que tanto acostumou o público a vê-la na telinha da Globo, mas sobretudo elogiaram a pessoa.

- Antes de conhecer o nosso esporte eu era torcedor, sempre fui, um negro que quebrou barreiras na televisão brasileira. Eu conheço sua história. Desde 1962 (na televisão), ela foi a primeira mulher negra a aparecer na televisão brasileira na grande rede. Ficamos maravilhados em todos os lugares que ele apareceu, respeitado em todos os lugares, ele trouxe o melhor em cada assunto, ele sabia contar a história corretamente. Eu a convidei para o UFC umas duas vezes, ela esteve duas vezes no UFC do Rio de Janeiro, foi sensacional. Ela foi iluminada, diferenciada, mudou a vida das pessoas. Onde chegou tinha luz própria, mostrou muito para o mundo, para os brasileiros que não podem viajar. Ele fez material em mais de 100 países diferentes mostrando diferentes culturas. Um negro que conseguiu chegar onde estava quebrando barreiras e preconceitos, esse preconceito existiu em nosso esporte e sempre será lembrado. Inesquecível. Meus pêsames à família e a todos os repórteres que também devem ter sentido. Ficará em nossos corações - destacou Minotauro.

- Você era gente fina, educada, uma mulher muito inteligente, muito bonita, super em forma, magra e charmosa. Eles nos trataram muito bem. Foi muito bom ter esse contato com ela. Eu só a conheci no Japão, ficamos lá a semana toda, estávamos juntos todos os dias e foi possível conhecê-la e ver que ela era uma mulher muito fofa e muito carinhosa. Minhas condolências à família. Quando a conheci parecia super em forma, magra, bonita, voluptuosa, é mesmo a imagem que tenho dela e que quer que todos vejam como uma mulher de sucesso, à frente do seu tempo e de quem deixamos muitas lições. Obrigado pela oportunidade de nos conhecer. Glória, vá com Deus, muito obrigado e espero que saibamos quem você foi e o quanto você foi importante para o jornalismo brasileiro. Foi um prazer conhecê-lo - finaliza Wanderlei.